entre árabes e judeus...



"O que significa ser uma menina judia, de nome árabe, vivendo em um país católico, freqüentando escola protestante? O que significa ser uma jornalista brasileira, de origem judaica, cobrindo uma guerra árabe-israelense, nos países árabes, e com posições solidárias aos palestinos? "

Esta semana terminei a leitura deste incrível relato autobigráfico de Helena Salem, publicado em 1991, há 15 anos atrás, e ainda extremamente atual. A autora transmite, de maneira irretocável, toda a angústia vivida ao longo de sua vida contra qualquer tipo de opressão. O livro é, em algumas medidas, um grito a favor das diferenças e da tolerência; contra o etnocentrismo.

Helena Salem viu-se, aos 25 anos, como correspondente internacional do Jornal do Brasil no Egito; encarregada de cobrir a Guerra do Iom Kippur, ou do Ramadan, em outubro de 1973. O livro emociona e implica uma enorme reflexão não apenas sobre o conflito entre árabes e judeus...

"Quando os israelenses massacraram os palestinos nos campos de Sabra e Chatilla , em 1981, participei de um debate convocado pelo Paz, Agora, movimento constituído por judeus progressistas, no Rio. Por coincidência, o debate aconteceu no mesmo Colégio Bennet de minha infância, e seu objetivo era protestar contra a política militarista de Israel. Outros tempos. Falar contra o governo israelense já não significava ser anti-semita, como em 73. Mas para exaltar as justas posições dos progressistas contra o massacre, alguém classificou o primeiro-ministro Menahem Begin de 'mau judeu'. Um judeu que havia saído do bom caminho. E esse alguém começou a discorrer sobre a grandeza do judaísmo, como se tudo que dele viesse fosse bom, e o mau estivesse fora dele. Não é verdade, pensei. Não é preciso mitificar para valorizar. Todas as culturas têm seus bons e maus aspectos, e os mais ou menos, e depende do tempo, da geografia, inclusive também para onde aponta a câmera de quem olha. Antes de ser um bom ou mau judeu, Begin era um péssimo ser humano, racista às avessas, belicista opressor.
Meu pai, como quase todo homem judeu sefardi, também oprimiu a mulher e as filhas. Ele era uma pessoa boa, e um 'bom judeu'. Mas, para mim, como mulher, esse aspecto de sua formação cultural foi ruim. Tanto que, menininha, tive a certeza de que, para viver, teria de me livrar desse fardo. Desse lado 'mau' de ter nascido mulher judia sefardi. A cultura árabe também oprime a mulher, e tem coisas lindíssimas. Há fascínoras e poetas em todas as culturas."


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